terça-feira, 19 de maio de 2009

ah, margarida, posso jurar
acabo de ver
o finado gaspar.
esperei por pedro do lado de fora da pequena loja de conveniência do posto onde resolvemos parar para tomar fôlego antes de prosseguirmos com nossa fuga desesperada.

o vento frio daquela noite cortava minha pele e ao mesmo tempo, uma a uma, minhas esperanças iam ruindo conforme as horas avançavam pelo vazio da madrugada. pedro apareceu vestindo sua habitual jaqueta gasta e trazia consigo um pequeno pacote que não pude identificar.

parou logo à minha frente, quase encoberto totalmente pela escuridão e com um olhar pesaroso e cheio de culpa, tirou um revólver de dentro do pacote e, após hesitar por alguns segundos, disparou em minha direção sem sequer fechar os olhos.

'pedro...'

cheio de lágrimas nos olhos, pedro correu para segurar meu corpo que teimava em desabar em direção ao chão envolto pelo sangue que escorria do abdômen atingido

'eu não...' parou de falar conforme a primeira lágrima cortou sua a face.
'vá...' podia jurar que já sentia o gosto do sangue na boca 'vá, eu sei....'

pedro, totalmente desprotegido e cheio de temores, apertou minha mão fortemente, sussurou um pedido de desculpas e correu para nosso carro onde mariana já o esperava para em alta velocidade desaparecerem na escuridão do horizonte.

poucos segundos depois do tiro, já se confundiam em minha cabeça o som da sirene, os gritos desesperados das testemunhas escandalizadas e minha prece...mais do que nunca, solitária prece...

domingo, 17 de maio de 2009

o mar em seu pé
mal sabia ele
que tudo que queria
era uma questão de fé

sábado, 16 de maio de 2009

assim que entrou no bar, uma confusão mental se instalou.

do lado esquerdo do palco, tocando um acordeon, estava krazinsk, seu amigo húngaro que não via desde os tempos quando ainda perambulava pelas agitadas ruas de nova iorque.

não fosse isso o bastante, krazinsk estava integrado de uma forma quase cósmica com a excêntrica cantora nacional, mercedes dolores e sua gigantesca banda de incontáveis membros, 'el zocalo rojo', que rasgavam melodias para sua alma aventureira.

todo o bar estava imerso em um êxtase coletivo contagiante que o fez entrar no clima da festa e se inserir numa animada roda de dança composta por estranhos burgueses muito bem vestidos que ofereciam doses e mais doses de tequila ao mesmo tempo em que riam de tudo aquilo.

'pero, yo no...'

por mais esforço que fizesse não o escutavam. foi quando se entregou de vez e foi amanhecer com o sol queimando seu rosto em plena sala de estar da casa de rosa sanchez, que, sentada em seu sofá e fumando seu cigarro matinal, aguardava ansiosamente as explicações para a presença de 3 garotas da nicarágua que tomavam café da manhã em sua cozinha, mercedes dolores dormindo em sua banheira e o grande cavalo preto que estava em seu jardim.
ela perguntou sem grandes rodeios, 'isso tá ficando perigoso, não?', 'muito' ele, tenso, respondeu e olhando para ela, seguro de si, sorriu.

sexta-feira, 1 de maio de 2009

j. sanchez passou em casa e de forma direta foi logo me pedindo sua identidade de volta. após longa discussão, acabamos matando duas garrafas de uísque e sentados na varanda, ao sabor de nossos cigarros de palha, lembramos dos velhos tempos no já tão distante alabama.
tudo estava bem, até o dia em que acordou e percebeu que havia se transformado em um fauno. não fosse o espanto maior, estava ele de frente para um pássaro negro que, parado em sua janela, ditava as previsões mais nefastas para o mundo logo às 8h30 da manhã.