terça-feira, 30 de março de 2010

toda sua plantação de arroz era regada por lágrimas diárias, fossem essas de dor ou alegria, que caiam a cada passo que dava. talvez fosse esse o segredo de seu sucesso.

sábado, 27 de março de 2010

naquele sábado completavam 03 longos anos que juan estava em seu apartamento sem qualquer tipo de contato com o mundo. antes que pensem que era um exílio forçado, desfaço o engano desde já, era o contrário, juan optou pelo auto-exílio quando, desprovido de motivações para encarar a vida com alegria, decidiu que seria a melhor companhia para si mesmo.

não havia quase nada de especial para um longo relato desses 03 anos. juan assistira a todas as transmissões televisivas possíveis sem interrupção, completou 34.045 palavras cruzadas que eram passadas por debaixo da porta pela síndica e escreveu 2.302 haicais. fora isso, há de se destacar 3 fatos curiosos.

a) todos os dias, ele escrevia mensagens de esperança em pequenos pedaços de papéis e com os mesmos, fazia pequenos aviõezinhos e os lançava por uma fresta da janela do alto do prédio. não sabia se ele mesmo acreditava nelas, mas o simples fato de alguém se agarrar àquelas palavras com um afinco tão determinante, já o satisfaziam.

b) contando quase 1.000 dias em sua casa, juan sequer tivera chance de comprar lâminas para fazer sua barba. esta, acastanhada, cresceu impressionantemente durante esse tempo e passou a tomar conta de todo o apartamento. primeiramente avançou pelo chão atingindo sala, cozinha, banheiros e lavanderia. aos poucos, sem ter mais lugar para se espalhar, passaram a subir pelas paredes e assim cobrir todos os azulejos brancos que enfeitavam o harmonioso conjunto habitável. já no terceiro ano de reclusão, essa mesma barba passou a ultrapassar fronteiras, ora escapando pelas frestas das portas ou das janelas, e assim atingindo outros apartamentos e assustando seus moradores desavisados, que com pequenas tesouras, cortavam suas pontas como se fossem raízes que vinham buscar um local onde pudessem se fixar.

c) fora descoberto por um jovem repórter que viera investigar o mistério dos fios de cabelo que começavam a dominar o prédio. cedeu uma entrevista curta, sem nem sequer abrir a porta, apenas trocando bilhetes por debaixo dela, e em menos de 15 minutos após a publicação da reportagem, seu prédio se transformou em uma verdadeira meca. pessoas de todo o mundo, até mesmo coreanos ou vietnamitas, vinham ao encontro daquele que seria um novo messias. em questão de horas, a rua foi fechada e o fanatismo cresceu espantosamente.

por ser uma pessoa que apenas queria o silêncio e a vida calma, juan roeu os fios de barba próximos ao queixo, correu até a prateleira da cozinha com dificuldade para se locomover entre os fios e de lá arrancou uma grande cartolina, na qual escreveu a seguinte mensagem: "é tarde, é tarde que arde". feito isso, dobrou suas pontas a fim de transformar toda aquela quantidade gorda de celulose em um avião gigante, chutou com as pernas raquíticas a janela, fazendo os cacos de vidro caírem longos metros abaixo, segurou firme nas asas do avião recém-adquirido e saltou.

uma forte corrente de ar veio ressaltar que juan era uma pessoa de sorte e de tão forte que era, fez com que o avião voasse alto e para longe. no horizonte, juan foi se tornando um pequeno pontinho e depois de alguns minutos, rindo, sumiu de forma que ninguém nunca mais ouviu, viu ou sentiu juan outra vez em vida.

sexta-feira, 19 de março de 2010

pedaço
de aço
sem laço
nem baço.

domingo, 14 de março de 2010

gostava de acordar cedo, quando todos ainda dormiam silenciosamente e começavam a se despedir do universo onírico cotidiano, e assim apreciar a imersão no silêncio e no vazio das ruas, que deixavam a leve impressão que o mundo era dele, somente dele, mesmo que por apenas alguns instantes...

terça-feira, 2 de março de 2010

álvares havia sido alvejado
com 4 balas mortais
que saíram pela culatra.