quinta-feira, 30 de abril de 2009

a já idosa senhora amandella não tinha mais forças para nada que não fosse colocar seu disco preferido na vitrola e lembrar, com um largo sorriso no rosto, de seus anos de juventude nos idos de 1920.
ernesto salvatti assinava o terceiro quadro do corredor sul da nova exposição da galeria de arte da pequena cidade espanhola para a qual havia acabado de se mudar. a bela aquarela trazia uma enorme árvore marrom vista de longe em uma paisagem azulada pela grande tempestade que ameaçava cair no local.


feliz pelo reconhecimento obtido em seus quase 10 anos de carreira na crítica de arte mundial, que iriam ser comemorados em uma grande festa organizada pela alta sociedade local, ernesto resolveu ir até a barbearia e pediu para que fossem feitos, com todo o esmero necessário, a barba, o cabelo, o bigode e o pescoço.
olhos abertos num quarto mal iluminado pela luz do novo dia. lentamente ela sentou para encontrar-se em meio aos seus pensamentos ainda sonolentos. e logo o fez. não que ela não estivesse feliz com aquele novo dia, ela adorava acordar e saber que mais uma jornada a esperava, mas todo aquele ar denso que preenchia seu quarto, aquela escuridão que se escondia do sol dentro de cada canto ainda dormente da casa, todas aquelas superfícies que traziam os pensamentos fragmentados das conversas demasiadamente longas do dia anterior, tudo isso deixavam-na com a sensação de que aos poucos a casa a repelia. e pensando nisso, levantou-se e foi fazer seu café enquanto pensava em sua fuga.

sexta-feira, 17 de abril de 2009

além de sua carisma habitual e o título de atleta do ano de 1918, Félix era conhecido, e invejado também, pelo grande peitoral desenvolvido e definido, fruto de anos dedicados à natação e às competições internacionais que participava. o que ninguém notava, porém, é que suas costas estavam repletas de cicatrizes das facadas que recebia diariamente, sem sequer perceber, de seus amigos, aqueles que ele considerava como os mais íntimos.