domingo, 18 de dezembro de 2011

de novembro, guarda-se o silêncio, o poema e o pedido.
se me garantissem que o fim do mundo
seria sobretudo indolor
cederia à todas as previsões.

domingo, 30 de outubro de 2011

não seriam essas entrelinhas o refúgio silencioso que por vezes configura o grito abafado e distende toda a necessidade de se estar só? não seriam esses entre-espaços um retorno ao mais cândido repouso? entre-imagens, entrelinha, o espaço entre duas camadas grossas, viscosas, gordas e amorfas da tinta multicolorida recém-colocada na tela em branco. não seria a tela em branco o futuro, aquilo que resta, a borra de café, na qual observamos os cristais não difundidos, justamente aqueles que irão apontar os nódulos do porvir, os nódulos que não descem a garganta? não seria o entre-espaço das velhas rugas, o repouso das memórias felizes de outrora?

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

todos os anos, ao primeiro domingo de novembro, nena borges separava as duas rosas mais vistosas do velho canteiro em ruínas de seu quintal. cuidadosamente, ela as colocava sobre a mesa da sala, amarrava-as com um pequeno pedaço de barbante e rogava, através dos lábios esculpidos pelo tempo, uma oração em murmúrio inaudível. antes mesmo das 5h da manhã, ela partia em direção à praia, onde repousava as rosas e esperava o mar as levar embora, assim como o fizera, anos atrás, com seu marido e filho.

terça-feira, 2 de agosto de 2011

o vento lá fora, inquieto desde cedo, infiltrava-se pelas frestas encontradas na estrutura da velha e humilde casa e assoviava furiosamente como se quisesse expulsar à plenos pulmões os poucos moradores que ainda restavam. a pequena emiliana, por sua vez, podia jurar que o vento na verdade, ao passar pelas frestas, cantarolava belas melodias de amor.

terça-feira, 19 de julho de 2011

deveria eu falar que o que costumávamos chamar de nossa música, nosso hino de amor, a canção que por ventura, ou por acaso, ainda carrega nossos mais belos sentimentos, começou a tocar no exato momento em que o silêncio invadiu nosso breve diálogo? como um líquido, preenchendo cada vazio de nossos momentos de dúvidas, ela vai nos costurando lentamente, unindo por meio da matéria amorfa nosso apreço compactuado em silêncio, até o momento em que perceberemos que somos um só rio de águas claras (se é que já não sabemos e buscamos na poesia de sê-lo, a eternidade da beleza de sermos, e termos sido, dois corações costurados sob um só peito).

sábado, 25 de junho de 2011

uma melodia suave e doce tocava sua alma como espinhos de uma bela rosa delicada, as lembranças vinham e com elas as lágrimas, que preenchiam cada espaço, seco de saudade, dos seus olhos. como pequenos diamantes com várias faces, as sofridas lágrimas revelavam, em cada uma delas, momentos bons que passaram juntos...

sexta-feira, 10 de junho de 2011

a srta. gertrudes possuía uma rara mutação genética que a tornava hipersensível ao frio. cada leve brisa matinal era suficiente para estremecê-la de um frio intenso que aparentava congelar seus ossos.

por isso, diariamente ela se revestia com um grande quantidade de agasalhos, cachecóis, calças, gorros de lã e meias e cada vez que precisava tomar seu banho pela manhã, assemelhava-se a uma cebola perdendo suas camadas, uma a uma, e não se sabe se por conta do frio, das inúmeras desilusões amorosas ou mesmo por causa da extrema melancolia que permeava seus dias, ela chorava copiosamente.

sábado, 21 de maio de 2011

fê. fé. uma mudança no acento do monossílabo tônico. é tudo que me mantém em pé.

domingo, 15 de maio de 2011

tão silencioso aqui, dentro de mim.

quinta-feira, 5 de maio de 2011

existem aqui, em mim, cerca de 45 músicas impossíveis de se ouvir sem lembrar de alguém especial, 130 lugares que despertam uma bonita e, ao mesmo tempo, triste sensação de nostalgia e constatação da incapacidade humana de voltar no tempo, 42 cenas de filmes que parecem retratar momentos já vividos e muitas outras imagens e sons que, por vezes, fazem chorar. acho que tudo isso só reforça a idéia de que viver é significar.

quinta-feira, 31 de março de 2011

espantado com o quanto aquele mundo era pequeno, ele desejava mesmo que o mundo fosse ficando cada vez menor, bem pequeno, mínimo, até ficar bem pertinho de quem amava.

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

com os olhos marejados das lágrimas que aquele abraço lhe causara, confidenciou ao seu ouvido, em um sussurro desesperançoso, que a história deles era triste demais para virar filme.

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

não conseguir dizer que ama a cidade que te abriga não é má-educação. antes de ser um impropério silencioso, calar sobre um possível amor é apenas guardar para si, mesmo que momentaneamente, uma ocasião que deve ter seu tempo próprio de florescimento. quando for a hora, eu e a são paulo saberemos. só tenho medo, pois suspeito que saberei - e serei capaz de dizer sem medo - que te amo, no exato momento de partir.

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

e do alto de seus um metro e vinte, o pequeno matheus parou sua refeição, olhou para sua mãe e disse, insuflando o peito: "mamãe, quero ser cosmonauta!".