domingo, 30 de agosto de 2009

giz.

sr. bourbaille falava com muita autoridade sobre os mais diversos assuntos de sua área. andava pelos corredores da velha escola com o respeito e admiração de todos, estes alunos, professores e até mesmo funcionários. contava em suas aulas os causos mais interessantes da história do mundo de séculos atrás e, secretamente, carregava nas costas, seus já cansativos 548 anos de idade.

tesoura.

federico cobrava 8 pesos pelo corte de cabelo completo. o que muitos ignoravam, mas não as mulheres da pacata vila, é que federico também cortava corações.

olhar.

ele tinha um tique que me deixava nervoso.

domingo, 2 de agosto de 2009

condição.

um dó
só si
lá é.

norte-sul.

camilo guardava secretamente uma rosa-dos-ventos debaixo da cama,
à noite,
quando todos dormiam e respiravam como bufantes monstros marinhos,
ele navegava em pensamentos
e percorria todos os portos do mundo.

tormenta.

rosa vigarez foi uma das primeiras a escutar o boato que circulava de casa em casa: a nuvem de areia estava à caminho do novo méxico. de súbito correu para casa, vedou as grandes janelas de madeira, recolheu seus animais e, no escuro proporcionado pela nuvem que tapava o ardente sol, sozinha, acendeu 4 velas para a virgem guadalupe enquanto murmurava ao pé da santa de barro.

mr. paterson, já perto do fim do expediente, escutou pelo rádio ligado nos fundos da loja de conveniência, que uma das maiores tempestades estava chegando à flórida. teve tempo de fechar o caixa, pegar um pacote de macarrão instantâneo, dois refrigerantes, e com sua caminhonete ir para seu apartamento. lá, já sem luz devido aos estragos da chuva, paterson recitava trechos de preces que escutava sua mãe dizer quando criança.

pierre foi avisado por seus pais que não deveria sair. afinal de contas, a neve tomaria conta de paris em poucos minutos. todo o sistema de telefonia já estava comprometido e não demorou até as luzes se apagarem. no escuro, com uma lanterna velha, pierre brincava com seu pai de fazer sombras na parede, enquanto no quarto ao lado, sua mãe rezava pelo fim da nevasca.

presença ausente.

não saberia precisar se era pela presença ausente que o fazia ou apenas pela vontade de ler daqui um tempo esses pequenos versos que escrevia em alguma folha, perdendo-se assim em lembranças tão empoeiradas quanto as caixas que as guardavam.

saborear novamente os sentidos que hoje são, como se ainda fossem e anular o tempo-espaço como se pudesse, não só rememorar, mas reviver intensamente cada segundo.